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domingo, 14 de março de 2010

Crítica de Antonio Hohlfeldt ao espetáculo "Vermelhos-História e Paixão"

Antônio Hohlfeldt | a_hohlfeldt@terra.com.br

Antônio Hohlfeldt

Notícia da edição impressa de 12/02/2010

A história do Inter, com emoção e inteligência

Nossos times de futebol, e não apenas o Grêmio e o Internacional, diga-se de passagem, são instituições tradicionais do Estado. Por isso, sua apropriação pela arte não deve surpreender, pelo contrário: deveria ser corriqueiro que tais temas inspirassem nossos criadores. Sabemos, contudo, que, mesmo na literatura, o futebol é relativo escasso, embora as poucas obras que possuímos tenham boa qualidade. No caso do teatro, que eu saiba, até aqui, não havia nada. E então, inventaram Vermelhos – História e paixão, que tem a assinatura de Artur José Pinto, na dramaturgia, e do uruguaio Néstor Monasterio, na direção, além de um elenco formado por nove intérpretes, todos de excepcional qualidade, boa parte dos quais extremamente conhecidos de nosso público.

Artur José Pinto é conhecido sobretudo pelos textos de dramaturgia infantil que assina. Aqui, ao contar a história do Inter, no entanto, ele se superou de maneira extraordinária. Há bom gosto e inteligência, sensibilidade e equilíbrio em tudo. Inexiste qualquer movimento de desrespeito a quaisquer outros times ou ufanismo rasteiro. Inteligentemente, Pinto toma a figura do fundador do Inter e narra sua história – particular e institucional – valendo-se de uma inspirada recriação de época, marcada especialmente pela música popular. Neste sentido, a escolha do repertório foi corretíssima e muito feliz, e a presença de Simone Rasslan, como intérprete, garantiu a qualidade musical do trabalho: todo o mundo canta, a maioria do elenco é capaz de tocar algum instrumento musical, e não é raro que o espectador verdadeiramente se emocione com as passagens escolhidas e vivamente apresentadas no palco.

Se esta primeira narrativa desenrola-se linearmente ao longo do tempo, temos uma segunda ação dramática, aquele jogo em que o Internacional, no distante Japão, vai enfrentar a partida de sua vida para tornar-se campeão do mundo. Daí, Artur Pinto escolheu figuras variadas que personificam os diferentes torcedores. E vai compondo algumas imagens de cada um, em especial o contínuo do jornal, ex-engraxate, que já sonhou em jogar no time, mas que agora é torcedor emocionado. Alvaro RosaCosta dá um show de interpretação e é talvez a figura mais emocionante de todo o espetáculo, pela vitalidade que empresta a esse personagem.

Artur Pinto, assim, conduz a dupla ação até a vitória final, presente, e a fundação do time, passado, que se mistura à vida privada do fundador, numa cena hilária em que pedido de casamento e convite para a presidência do clube se fundem.

Figuras queridas de nosso teatro, como José Vitor Castiel, Oscar Simch - irreconhecível como o diretor de A Federação - o impagável Rogério Beretta, o emocionado Gustavo Razzera e William Martins compõem tipos variados, entre figuras históricas e personagens de fundo que constituem a bela história do time futebolístico. No grupo feminino, a estreante Sofia Schul, como a prometida de Hoppe, dá um banho de naturalidade, comportando-se como gente grande; Simone Rasslan é sempre emotiva, e Susi Martinez personifica figuras tão diversas tanto uma “mamma” cuidadosa quanto uma secretária de redação em um jornal porto-alegrense.

A escolha das composições para a trilha sonora; a elaboração do cenário, dividindo o espaço em dois planos, um mais vinculado ao passado e outro ao presente; os cuidadosos figurinos, o que evidencia uma produção caprichada; tudo, enfim, demonstra bom gosto, respeito pelo público e, sobretudo, inteligência na definição do caminho escolhido (não há programa da peça, não tivemos como identificar seus responsáveis). Néstor Monasterio e Artur José Pinto certamente têm aqui um de seus melhores momentos, cada um em sua atividade. Não há nada a observar com restrição. Nem mesmo a duração do espetáculo, de hora e meia, que voa, tal o interesse e o envolvimento provocados na plateia. Claro, formada, essencialmente - ou exclusivamente? - de colorados que, ao final, cantam juntos os hinos do time de seu coração. A exceção era eu - gremista - o que fazer? Fui trabalhar, assistir e avaliar um espetáculo de teatro, mas confesso: também me emocionei e quase saí cantando o “Papai é o maior...”.



Atenciosamente, Alvaro RosaCosta - RGS.



Imagens Cinema
http://meadiciona.com/alvarorosacosta

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