Radar Cultura

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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Segunda Parada...Quase para...

Pode ser a impressão de alguém que cultiva grandes expectativas. Mas quando dobrei a esquina das ruas Érico Veríssimo com João Alfredo, no domingo, dez de abril, às 15h20min (acreditava que eu estava atrasado, devido a minha “montaria” demorada), antecipava encontrar uma multidão de artistas.

Artistas esses que dizem desejar ver salas e teatros lotados. Membros de uma classe teatral de uma cidade percebida em todo o país como uma das capitais mais desenvolvidas e envolvidas culturalmente. Impossível evitar minha decepção ao deparar-me com o número inexpressivo de pessoas no ponto de partida da II Parada de Teatro da Cidade de Porto Alegre. Sim, o Largo Zumbi dos Palmares (mais conhecido como largo da finada Epatur), estava constrangedoramente vazio.

Falo da minha expectativa por ter participado das reuniões e da alegria da primeira parada. Minha conclusão lógica era que, desta vez, na segunda edição, teríamos uma maior participação dos grupos, personalidades, estudantes, diretores, atores, produtores, professores, sobreviventes e empresários do ofício teatral.

Não é minha intenção (muito pelo contrário) desmerecer a iniciativa de um grupo disposto fazer acontecer algo legal. Lá estavam muitos alunos, não mais que cinco mestres, menos da metade dos grupos que dizem atuar nesta cidade, a gente do teatro de bonecos (sempre presente, apoiando) e alguns familiares.

Apesar da decepção, uma valiosa lição aprendida nesses meus 16 anos de teatro foi providencial: a plateia sempre merece nosso maior esforço e dedicação – seja ela formada por um, dois, 50 ou 200 expectadores. Da mesma forma, a Parada e os poucos presentes contavam com a entrega de cada um. E seguimos, conduzidos pela força maravilhosa e contagiante da Banda da Saldanha.

Ao fazer esse relato sobre o evento, pergunto: Onde estavam as pessoas que se beneficiam dos fundos como as leis de incentivo à cultura? Os agraciados do Fumproarte? Dos projetos da nacionais da Funarte? Onde estavam as personalidades que alegam fazer teatro “desde as cavernas” na nossa cidade?

Por que razão se ausentaram aqueles que aparecem quando concorrem a premiações? Talvez ocupados em um desses eventos “artísticos” promovidos por políticos e regados a discursos e coquetéis... (Muitos desses, não por coincidência, os mesmos que ocupam, anos a fio, cargos políticos que decidem o destino financeiro e artístico da classe!)

Ali estavam as pessoas que, de fato, se preocupam com o contexto. Com o cenário do fazer teatral em Porto Alegre. Mas esperava mais, projetava mais. Uma vez que festejávamos a II Parada de Teatro, com o apoio voluntário da iniciativa privada (SESC), a parceria de nossa prefeitura (que fez o possível e até copinhos com água do DMAE distribuiu), surpreendeu-me a ausência de gente que ocupa a Secretaria de Cultura no Governo Estadual.

Desculpo-me antecipadamente se por ventura estiver sendo injusto e equivocado. Mas o evento não teve o impacto necessário para uma classe que quer reivindicar crescimento em nossa cena teatral.

Será que vamos nos encontrar na terceira edição? Espero que abram-se as tais portas dos castelos e cavernas. E que, ao menos por uma tarde, durante algumas horas, um domingo por ano, a máscara de burocrata seja trocada pelo semblante do artista que ainda acredita que fazer teatro é relevante e vale à pena.

Heinz Limaverde

Ator

quinta-feira, 1 de abril de 2010


Grande amigo!
Fiquei ontem pensando que talvez não tenha sido justo contigo nos agradecimentos.
Apenas citei teu nome. E não deveria ser assim...
Precisava dizer mais a respeito do teu profissionalismo, da tua amizade, de como precisamos contar com a tua colaboração
em relação a tudo que envolve esse trabalho e também outros tantos que fizemos juntos.
Precisava um pouco mais de destaque, falar da tua trilha maravilhosa, falar dos videos, de toda contribuição tua na internet para o espetáculo, enfim,
precisava muito mais. A gente sobe, pega o prêmio e depois que passa sempre falta alguma coisa.
Esse email é só para não deixar nada faltar. Esse prêmio é nosso e vc sabe disso. De nada valeria o meu trabalho sem a tua
ajuda, sem a tua solução para as nossas vozes, sem a tua presença sempre pronta a solucionar, fazer acontecer.
A confiança é total quando vc está com a gente, comigo. Se depender de mim vc sempre estará presente, fazendo junto,
dialogando junto. Vc sabe disso. Mas as vezes é bom dizer outra vez.
Muito, muito obrigado por todo o teu carinho, amizade, afeto, profissionalismo que vc empresta a esse espetáculo, e obrigado
por tudo mais que já criamos ao longo da vida!
Fica registrado aqui o meu mais sincero agradecimento mesmo!
As vezes é preciso sentar e dizer ou escrever aquilo que temos como verdade dentro de nós.
Tenho por ti uma grande admiração e amizade profunda.
Agora não falta mais. Agora está feito o agradecimento que não aconteceu no palco. Me perdoe.
Nosso valor não está numa estatueta e sim no que somos em quanto seres humanos, dentro do trabalho, dentro da amizade!
E nisso tudo vc prá mim é de OURO!
Grande abraço meu velho e que a vida nos permita outras oportunidades juntos.
Nelson.

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"Este é o Nelson Diniz.
Na verdade fiquei aliviado quando vi pronunciarem o seu nome, como melhor ator, no Prêmio Açorianos de Teatro.
Jamais pensei...até agora...em participações especiais na construção de uma obra coletiva!
E acredito ser assim o correto.
A glória e o fracasso é responsabilidade do coletivo.
Fico envaidecido (por 20s) com o seu comentário e sei que nossa relação é a mais verdadeira possível!
Acredito, tenho fé, no teu trabalho, no da Liane...e quando tenho fé entro de corpo, alma e periféricos!!!kkk
Muito obrigado por este depoimento...mas compreendo toda a situação e sei que a responsabilidade não é só sua!!
Parabéns, meu amigo!"
Alvaro.

terça-feira, 30 de março de 2010

30/03/2010

Impressões de Rodrigo Monteiro sobre o espetáculo "Xaxados e Perdidos".


Xaxados e Perdidos

Foto: Cláu Paranhos


Que não se vai


Acho que já disse aqui, mas não custa lembrar: para mim, as categorias são meramente analíticas. Elas não existem e, se um dia existiram, hoje vêm, fazem sentido e vão embora. Se nesse passado era fácil, agora é cada vez mais difícil dizer “isso é teatro”, “isso é dança”, “isso é crítica”, “isso é comentário”, “isso é desabafo”, “isso é verdade”, ... Sinto como se a internet tivesse feito do mundo uma grande sopa. Uma sopa que é oposta ao tempo em que, no prato, se conseguia separar o feijão do arroz, a salada era posta em outro prato, a carne vinha por último. Ainda há códigos felizmente! E são eles que nos fazem olhar para o prato e saber (mais ou menos) o que estamos comendo. Olhar pro evento e ter alguma idéia do que vestir. Olhar para o interlocutor e pensar como falar.

Me parece difícil falar de teatro em
Xaxados e Perdidos, uma vez que o espetáculo recupera pouco do que tem sido acumulado até hoje dessa arte. Seria mais fácil falar dele como espetáculo de música, mas aí meu conhecimento tão escasso sobre isso não me autorizaria a falar muito. Então, quem sabe se eu não falasse e só lembrasse?

Porque tenho vontade de lembrar:
Alvaro Rosacosta e Beto Chedid, liderados por Simone Rasslan, são pessoas de teatro. São pessoas de música. Pessoas de arte. São pessoas de família. Maridos, esposas, pais, mães e filhos. São produtores, motoristas, bebem água e respiram. São isso tudo. E isso tudo os faz humanos. Sendo eu também alguém humano, a lembrança fica singela, mas não significativa. Só a diferença significa. E a diferença é a capacidade do trio de, com um espetáculo, nos fazer sonhar.

De uma forma muito sensível, Lúcia Bendati escreveu:

Terceiro sinal. Senhores passageiros, apertem os cintos. Seremos transportados para outra atmosfera. Aqui e agora, bastando para isso abrir-se e tornar-se disponível para absorver os acordes que do palco irão brotar. E entra em cena o trio - como se não bastasse a competência musical - mais simpático e harmonioso que eu me lembro ter visto nos palcos daqui. Começam à capela um "padabadá" harmônico. E Simone Rasslan se encaminha para o teclado. Beto Chedid e Alvaro Rosacosta colocam-se junto a seus vários instrumentos também. E está feito. Criado um novo mundo, uma nova energia.”

Então, sonhei que era brasileiro.

Há dezessete anos, não vou ao Mato Grosso do Sul. Na última vez em que fui, voltei sem malas. Eu havia dado tudo aos meus primos, parte da minha família que ainda hoje passa por bastante necessidade lá. O registro negativo nunca mais me abandonou e jamais quis voltar. Nunca mais vi o meu avô. E só vi minha vó porque ela, quando viva, vinha frequentemente para Porto Alegre. “Xaxados e Perdidos” me deu vontade de ir ao Mato Grosso, ver meu avô, meus tios e meus primos. Voltar.

Cantei “
Num Rio de Piracicaba” e lembrei do meu pai quando tocava violão. Voltar.

Cantei “
Calix Bento” e me vi cantando no Coral da Igreja de Gravataí ainda adolescente. Voltar.

Lembrei. Viajei a esse novo mundo, a essa nova energia e descobri ser ela nova somente por estar em oposição à atual. À velha. Porque velha e nova, como também virtual e atual também só são categorias. Também se vão tão logo nos ajudam a fazer sentido. E fazer-nos sentido. E fazer-nos sentir.

Alguém comentou que o registro de mim mesmo aqui é uma demonstração do meu ego elevado. É. Porque a boca que canta na platéia é minha. Porque a mente que voa é minha. Porque quem lembra sou eu. E dizer que cantei, que voei e que lembrei de coisas é agradecer a quem fez “Xaxados e Perdidos” pela oportunidade de voar, de lembrar, de voltar também. E quem fez e faz “Xaxados e Perdidos” não fui/sou eu.

Então, agradeço (sempre em primeira pessoa) aos envolvidos nesse belíssimo espetáculo que haverá de voltar a cartaz muitas vezes para o deleite público. Agradeço pela escolha do repertório ( Pixinguinha , Almir Sater, Egberto Gismonti, Tião Carrero, Giba Giba e Dorival Caymmi, além de preciosos desconhecidos...) que faz conhecer músicas tão belas, tão diferentes da nossa cultura sulista, mas tão brasileiras como nós todos. Agradeço pela delicadeza da luz, do cenário e do figurino: simples, humano, adequado, adjuvante. Pela execução das músicas e pela interpretação dos personagens que através delas cantam e contam suas histórias. Pela acolhida na recepção, por ter atendido ao solicitado Bis, pela participação do Coral do Colégio Santa Rosa de Lima na platéia que deixou-nos (também platéia) ainda mais confortáveis.

E agora só me resta voltar a citar Bendati, outra que voou, que viajou, que deve ter lembrado, e que também agradece.

“Então me resta agradecer, mais uma vez. E desejar vida longa ao "Xaxados...". E que não se percam dos nossos palcos, pois quero viver isso mais vezes.
Muitas vezes!”


E me despedir já acumulado das novas energias, essas que nunca se vão.



*


Ficha Técnica:


Concepção: Simone Rasslan
Arranjos: Simone Rasslan, Alvaro RosaCosta e Beto Chedid
Direção de Cena: Alvaro RosaCosta
Som: Sasandro
Luz: Bathista Freire
Cenário: Álvaro Villa Verde
Figurino (Simone): Madalena Rasslan Fischer
Confecção: Alaci Costa
Flor: Liane Venturella

segunda-feira, 29 de março de 2010

Palavras da Atriz e Diretora, Lúcia Bendati, sobre "Xaxados e Perdidos"


SEGUNDA-FEIRA, 29 DE MARÇO DE 2010

"Xaxados e Perdidos", uma benção!

Foto: Cláu Paranhos
Terceiro sinal.
Senhores passageiros, apertem os cintos, seremos transportados para outra atmosfera.
Aqui e agora, bastando para isso abrir-se e tornar-se disponível para absorver os acordes que do palco irão brotar.
E entra em cena o trio - como se não bastasse a competência musical - mais simpático e harmonioso que eu me lembro ter visto nos palcos daqui.
Começam à capela num "padabadá" harmônico, E Simone Rasslan se encaminha para o teclado. Beto Chedid e Alvaro Rosacosta colocam-se junto a seus vários instrumentos também.
E está feito.
Criado um novo mundo, uma nova energia.
O cenário de Alvaro Vilaverde, de grandes fuxicos de chita, pequenas instalações com altares de santos e o complemento da ótima iluminação do Bathista Freire resultam com maestria num objetivo: aconchegar.
Não há como sentir-se acoado ou impassível, ou mesmo frio ao que nos é apresentado. O figurino de Madalena Rasslan para Simone e a composição de figurino de Alvaro e Beto contribuem, pois deixam os músicos tão à vontade quanto a gente que os recebe de coração aberto.
Não sou nenhuma especialista nesta área e graças a deus isto não é nem se pretende uma crítica. Vamos dizer que é um relato de impressão, ou talvez o melhor seria dizer de "sensação".
A sensação que saí do espetáculo musical "Xaxados e Perdidos" foi a de ter elevado a alma. Saí abençoada, renovada, completa.
Viajei pelo Brasil ontem à noite, ali sentada na platéia do Teatro do Sesc. E se eu olhasse pro lado, coisa que acho improvável, pois estava hipnotizada, talvez eu visse rodas de viola, Rios São Francisco, e montes de cenários encantadores no nosso país.
Mas acima de tudo, me senti em casa. E é esse o grande mérito desse espetáculo. A interpretação das músicas na voz de Simone em conjunto com Alvaro e Beto e os arranjos criados para esse repertório são uma benção. Arrepiam de tão lindos. A sonoridade cativa. As "surpresas" são bem-vindas. Coloquei entre aspas, pois já tinha visto o espetáculo na estréia, e sabia que havia a participação de um grupo coral na platéia. Mas tudo me parecia a primeira vez.
Percebi com satisfação, o quanto o espetáculo evoluiu, está mais fluido e acabado. E escolha do repertório é para mim, acertadíssima. E Simone diz a que veio. É doce, maternal e por vezes forte e agressiva na interpretação das músicas. Por que as conhece e domina. E sabe usar seus intrumentos.
Suspiro. Era isso. Daqui pra frente só posso me repetir.
Então me resta agradecer, mais uma vez. E desejar vida longa ao "Xaxados...". E que não se percam dos nossos palcos, pois quero viver isso mais vezes.

Muitas vezes!

domingo, 21 de março de 2010

Palavras da Diretora Luciana Éboli.
Quem sou eu para contrariar!!!kkkk
Muito obrigado, Lu!!

XAXADOS E PERDIDOS no Teatro do SESC - Imperdível!!!

21 de março de 2010

Olha só, pra quem ainda não assistiu, não dá pra deixar de ir:

Xaxados e Perdidos, com a maravilhosa Simone Rasslan,

acompanhada dos músicos Alvaro RosaCosta e Beto Chedid,

um trio e tanto, que faz do espetáculo uma série de momentos

sublimes e emocionantes. O grupo faz uma grande homenagem

à cultura brasileira, através de um trabalho de pesquisa

riquíssimo, como escrevem no programa: “Nessa terra onde

tudo dá, não faltam batuques dos mais refinados, sambas,

chorinhos, cirandas, xotes e xaxados que nascem do ‘barro

do chão’ da alma de um povo cheio de imaginação, crendices

e amores”.

A versão de Cuitelinho na delicadeza da voz da Simone é de

uma sensibilidade indescritível - e inesquecível - que depois

arrasa na sequência com Sodade Matadera, de Dorival Caymmi.

O roteiro do espetáculo reserva surpresas belíssimas e, se

Severina Noite (Lula Queiroga/Pedro Luiz) nos arrebata, é

impossível conter as lágrimas em Água e Vinho (Egberto

Gismonti/Geraldo Carneiro). E depois é só festa, que começa

com o O Canto das Fiandeiras, do folclore de Minas, e agradecer

por esse lindo espetáculo, com direção de cena do Alvaro

RosaCosta, cenário do Álvaro Villa Verde e Luz do Batista Freire.

SEGUE A DICA, COM CARINHO E UM BEIJO GRANDE

PRA ESSA EQUIPE!

Em tempo:

A temporada de Xaxados e Perdidos iniciou ontem no

Teatro do SESC - Alberto Bins, 665 - Porto Alegre

e segue até 28 de março de 2010, sempre aos sábados e

domingos às 20 horas!

Alvaro, Simone e Beto: Xaxados e Perdidos

(Sai um pouco da frente do computador e vai ao teatro, que vale a pena!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)

domingo, 14 de março de 2010

Crítica de Antonio Hohlfeldt ao espetáculo "Vermelhos-História e Paixão"

Antônio Hohlfeldt | a_hohlfeldt@terra.com.br

Antônio Hohlfeldt

Notícia da edição impressa de 12/02/2010

A história do Inter, com emoção e inteligência

Nossos times de futebol, e não apenas o Grêmio e o Internacional, diga-se de passagem, são instituições tradicionais do Estado. Por isso, sua apropriação pela arte não deve surpreender, pelo contrário: deveria ser corriqueiro que tais temas inspirassem nossos criadores. Sabemos, contudo, que, mesmo na literatura, o futebol é relativo escasso, embora as poucas obras que possuímos tenham boa qualidade. No caso do teatro, que eu saiba, até aqui, não havia nada. E então, inventaram Vermelhos – História e paixão, que tem a assinatura de Artur José Pinto, na dramaturgia, e do uruguaio Néstor Monasterio, na direção, além de um elenco formado por nove intérpretes, todos de excepcional qualidade, boa parte dos quais extremamente conhecidos de nosso público.

Artur José Pinto é conhecido sobretudo pelos textos de dramaturgia infantil que assina. Aqui, ao contar a história do Inter, no entanto, ele se superou de maneira extraordinária. Há bom gosto e inteligência, sensibilidade e equilíbrio em tudo. Inexiste qualquer movimento de desrespeito a quaisquer outros times ou ufanismo rasteiro. Inteligentemente, Pinto toma a figura do fundador do Inter e narra sua história – particular e institucional – valendo-se de uma inspirada recriação de época, marcada especialmente pela música popular. Neste sentido, a escolha do repertório foi corretíssima e muito feliz, e a presença de Simone Rasslan, como intérprete, garantiu a qualidade musical do trabalho: todo o mundo canta, a maioria do elenco é capaz de tocar algum instrumento musical, e não é raro que o espectador verdadeiramente se emocione com as passagens escolhidas e vivamente apresentadas no palco.

Se esta primeira narrativa desenrola-se linearmente ao longo do tempo, temos uma segunda ação dramática, aquele jogo em que o Internacional, no distante Japão, vai enfrentar a partida de sua vida para tornar-se campeão do mundo. Daí, Artur Pinto escolheu figuras variadas que personificam os diferentes torcedores. E vai compondo algumas imagens de cada um, em especial o contínuo do jornal, ex-engraxate, que já sonhou em jogar no time, mas que agora é torcedor emocionado. Alvaro RosaCosta dá um show de interpretação e é talvez a figura mais emocionante de todo o espetáculo, pela vitalidade que empresta a esse personagem.

Artur Pinto, assim, conduz a dupla ação até a vitória final, presente, e a fundação do time, passado, que se mistura à vida privada do fundador, numa cena hilária em que pedido de casamento e convite para a presidência do clube se fundem.

Figuras queridas de nosso teatro, como José Vitor Castiel, Oscar Simch - irreconhecível como o diretor de A Federação - o impagável Rogério Beretta, o emocionado Gustavo Razzera e William Martins compõem tipos variados, entre figuras históricas e personagens de fundo que constituem a bela história do time futebolístico. No grupo feminino, a estreante Sofia Schul, como a prometida de Hoppe, dá um banho de naturalidade, comportando-se como gente grande; Simone Rasslan é sempre emotiva, e Susi Martinez personifica figuras tão diversas tanto uma “mamma” cuidadosa quanto uma secretária de redação em um jornal porto-alegrense.

A escolha das composições para a trilha sonora; a elaboração do cenário, dividindo o espaço em dois planos, um mais vinculado ao passado e outro ao presente; os cuidadosos figurinos, o que evidencia uma produção caprichada; tudo, enfim, demonstra bom gosto, respeito pelo público e, sobretudo, inteligência na definição do caminho escolhido (não há programa da peça, não tivemos como identificar seus responsáveis). Néstor Monasterio e Artur José Pinto certamente têm aqui um de seus melhores momentos, cada um em sua atividade. Não há nada a observar com restrição. Nem mesmo a duração do espetáculo, de hora e meia, que voa, tal o interesse e o envolvimento provocados na plateia. Claro, formada, essencialmente - ou exclusivamente? - de colorados que, ao final, cantam juntos os hinos do time de seu coração. A exceção era eu - gremista - o que fazer? Fui trabalhar, assistir e avaliar um espetáculo de teatro, mas confesso: também me emocionei e quase saí cantando o “Papai é o maior...”.



Atenciosamente, Alvaro RosaCosta - RGS.



Imagens Cinema
http://meadiciona.com/alvarorosacosta